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Pancadas (12)

16/08/2012

Acredito que este seja o mais violento acidente da nossa série Pancadas até então. O ano – 1995. Mika Hakkinen, então uma estrela ascendente, firmava-se como o líder da equipe McLaren no vácuo deixado por Ayrton Senna, que ao sair rumo à Williams no final de 1993 deixou o time de Ron Dennis sem uma grande referência.

A temporada chegava ao final na Austrália, ainda correndo nas ruas de Adelaide, e o finlandês buscava uma boa volta de classificação, tentando encerrar o ano em alta.

O acidente em sua dinâmica foi até bobo, o piloto percebe que não retomará o controle do carro e visivelmente aguarda pelo acidente. Não parecia nada de muito grave.

Contudo, somados todos os fatores como o ângulo da batida, os cockpits ainda com suas laterais baixas, e  a falta do HANS, nota-se o risco que correu Mika Hakkinen.

Mika viu a morte de bem perto. Passou muito tempo em coma, voltou vagarosamente às atividades normais, e como hoje acontece com Robert Kubica, foi dado como aposentado, ao menos para a Fórmula 1. Ressurgiu das cinzas em 1996, retomou a carreira, e quem diria, em 1998 e 1999 foi campeão mundial, lutando nas duas oportunidades contra ninguém menos que Michael Schumacher no primeiro dos dois títulos.

Causos (4)

27/03/2012

O milagre operado por Gerhard Berger.

Arnoux e Berger - Adelaide 1988

O ano era 1988. A McLaren, pilotada por Ayrton Senna e Alain Prost havia vencido 14 das 15 corridas já disputadas e o circo dirigiu-se a Adelaide, Austrália, para a etapa de encerramento do campeonato. A Ferrari amargava uma temporada bastante apagada, só tendo vencido o Grande Prêmio de Monza, nos dias seguintes à morte do comendador Enzo, quando todos suspeitam que a FIA fez vista grossa e deixou os italianos andarem fora do regulamento, como forma de permitir que vencessem em casa e homenageassem il cappo. Berger e seu time vermelho queriam terminar o ano em alta.

O título fora decidido dramaticamente em Suzuka, na prova anterior. O domínio dos carros vermelho e branco nas cores da Marlboro era um massacre só igualado pela Red Bull em 2011 e antes disso pela Ferrari em 2004 com Schumacher. Senna e Prost formaram a primeira fila nos treinos, e o time de Maranello sofreu com problemas de acerto no final de semana todo.

Berger sabia que seu motor consumia exageradamente. Para ter alguma chance de terminar a prova teria de andar num limite de rotações muito baixo, economizando combustível para poder cruzar a linha de chegada. Mas isso faria o ritmo do carro insuficiente para disputar a vitória. A intenção era dar show.

O austríaco e seus engenheiros então resolveram que a alternativa era partir para uma tática suicida, protagonizar um espetáculo, e recolher para os pits quando a gasolina acabasse.

E foi o que fizeram. Na largada (veja o vídeo), Berger partiu como um raio no encalço de Senna, e em poucas voltas fez a ultrapassagem. Em seguida rapidamente a diferença para Prost, o primeiro, foi pulverizada. Tão logo a Ferrari de Gerhard supera o francês, para surpresa de todos desaparece na frente.

Ninguém podia entender nada. Aquele carro durante o ano todo levara uma inapelável surra das McLaren, e sem maiores explicações agora ultrapassava com autoridade o poderoso MP4/4, aquela jóia da velocidade, sumindo sem deixar rastro.

Liderando com folga, as voltas foram passando e a gasolina começou a acabar. Berger passou a quebrar a cabeçana busca de uma maneira de terminar com classe aquela exibição de gala. O destino então deu-lhe uma brilhante chance: ao aproximar-se de dois retardatários o então líder Berger viu a Ligier azul de René Arnoux na sua frente.

Qualquer apreciador minimamente iniciado em Fórmula 1 sabe que o francês Arnoux foi um dos maiores trapalhões da história do automobilismo. Seu histórico de desastres ao volante, o hábito de não olhar pelos retrovisores e ser um retardatário perigoso de ser ultrapassado tornaram-no célebre, muito mais do que sua velocidade.

Na hora de colocar uma volta em gaulês, Berger forçou um pouco a barra, colocou-se em condição de ser atingido, tomando uma fechada proposital da Ligier de René, que foi excomungado como estava acostumado em toda as corridas onde causou incidentes.

Anos depois, Berger contou em seu livro que encontrar Arnoux na pista foi providencial para dar fim à exibição:

“Cheguei a dois carros retardatários; o que estava mais à frente era o Ligier azul de René Arnoux. Era perfeito, pois Arnoux era um dos pilotos mais inoportunos, do tipo que nunca olhava nos retrovisores e estava sempre no caminho de alguém. Assim, passei pelo primeiro carro e por Arnoux também, em uma só manobra um tanto ambiciosa em que o pneu traseiro do Ligier entrou em minha frente, uma pequena batida, acabou, finito.”